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Golpe da lista telefônica assusta brasileiros em vários estados



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"Célebre" há alguns anos, o golpe da lista telefônica perdeu um pouco da "mídia" que tinha, mas continua a fazer vítimas no país. O G1 reuniu casos de vítimas do golpe no Rio de Janeiro,  em São Paulo e no Paraná, onde, inclusive, haverá na próxima sexta-feira (25) uma audiência na sede do Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor (Procon) para decidir sobre o caso de Elaine Costa, que recorreu após receber em sua conta telefônica a cobrança de 12 parcelas de R$ 290 pelo serviço de divulgação de sua empresa na lista telefônica que não havia solicitado.

Elaine conta que uma funcionária de sua empresa recebeu uma ligação em outubro de 2010 supostamente da NetLista oferecendo gratuitamente a divulgação no site da empresa. Os golpistas argumentaram que por se tratar de um serviço sem custo, a funcionária poderia autorizar.

Foi mandado via fax um suposto contrato que “não mencionava nenhum valor a pagar”, diz a empresária. Os golpistas disseram para a funcionária carimbar o documento com a assinatura da empresa e dar um visto. Em janeiro deste ano veio na conta de telefone a primeira dentre 12 parcelas de R$ 290 pelo serviço da NetLista.

Elaine recorreu ao Procon. “Eu não devo nada, porque não assinei”, relatou. Dias depois, a empresa enviou por email um contrato com o valor a ser pago. “Um contrato diferente do que mandaram via fax e que constava novos valores", denuncia.

Só no Paraná, o Procon recebeu mais de 300 denúncias de fraudes relacionadas a lista telefônica no ano passado.

No Rio, gerente de loja paga R$ 10 mil a quadrilha

No Rio de Janeiro, a gerente de uma loja está há mais de dois meses em pânico. Segundo a advogada Maria Carmem Mello, que cuida do caso, a vítima já depositou R$ 10.375 para a quadrilha com medo de contar à empresa que trabalha que foi vítima da fraude e perder o emprego. Ele também atendeu a um telefonema supostamente da TeleListas pedindo confirmação de dados para divulgação gratuita de um anúncio da empresa.

“Ela estava pagando tudo do bolso dela, 13º salário, férias, gratificação, tudo com medo de envolverem o nome da empresa na Justiça. Fizeram um terror psicológico, ela não come, não dorme, está trêmula”, afirmou a advogada.

Maria Carmem diz que o fato da cliente ter assinado um documento sem ler permite que os suspeitos - de posse da assinatura e do CPF da vítima em nome da empresa onde trabalha - entrem na Justiça contra a loja. Não há como provar que eles se identificaram, na primeira ligação, como funcionários da TeleListas.

Atualização cadastral é armadilha

O empresário de telecomunicações Júlio Bernadinetti Júnior caiu em um golpe semelhante. A Ativa Publicações Ltda entrou em contato com sua empresa, em Curitiba, solicitando uma atualização cadastral e uma funcionária passou os dados solicitados. Dois meses depois, chegou um boleto para pagamento do serviço. “Do jeito que fizeram comigo, devem fazer com 10 a 20 pessoas por dia”, acusa Júlio.

Júlio diz ter sido ameaçado ao entrar em contato com a Ativa para reclamar que não havia solicitado o serviço. “Eles falaram que iam protestar na Justiça”, relatou. A fraude para ele está no suposto formulário que seria para confirmar dados. “O que dá para entender é que a atualização é um contrato”, disse.

Outra vítima do mesmo golpe é o analista de sistemas Jonas Ernesto Poli, de 31 anos, de Araraquara, no interior de São Paulo. Ele também recebeu uma ligação para confirmar informações pedidas por outra empresa, a BrasilListas.  “Eu confirmei os dados. Depois, ofereceram um anúncio na lista telefônica, num total de R$ 180 já com todas as parcelas. Eu fiquei interessado, mas não aceitei”, relatou.

Dois dias depois, os golpistas voltaram a ligar. Desta vez, Poli aceitou o anúncio. “Eles eram bem convincentes. Aí, me mandaram um fax para assinar e colocar carimbo da minha empresa e devolver”, explica.

“Meses depois, apareceu na minha conta de telefone um valor de R$ 180. Eu não entendi. Achei que tivesse vindo errado e que já tivesse descontado o valor total (do anúncio)”, afirma. Após receber diversas as cobranças, Poli ligou para a anunciante. “Disseram que eu tinha aceito um contrato de 12 parcelas de R$ 180, o que daria quase R$ 2 mil pelo anúncio”, afirma.

Poli pediu à empresa de telefonia fixa o cancelamento da fatura, mas afirmaram que a cobrança era de terceiros. Ele reclamou também na internet, em um site de serviços. "Eles queriam que eu retirasse a reclamação, pois entenderam como ameaça, mas eu não retirei”.

Meses depois, um advogado da empresa procurou Poli, dizendo que ele seria ressarcido. O empresário levou quatro meses até conseguir cancelar o contrato totalmente.

Renovação de assinatura

Na Associação dos Amigos da Criança com Câncer de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, os estelionatários ofereceram espaço na lista telefônica em troca da renovação da assinatura. “Eu disse ‘se você quiser colocar nossa instituição no seu produto pode colocar desde que seja cortesia, pois somos uma casa de apoio a crianças com câncer e não temos condições de pagar nada”, diz o consultor financeiro da entidade, Manuel Soares Acuña. ,

Um mês depois chegou um boleto de cobrança de R$ 200. “Quando chegou o boleto eu rasguei, pois sabia que aquilo não tinha fundamento, não tinha nota nem contrato de prestação de serviço. Tem gente que pensa ‘vou pagar logo para me livrar do problema’, tem gente que tem medo de processo e por isso acaba sendo vítima”, afirma.

Ao menos 30 empresas identificadas

Com base em material recebido de clientes dizendo que foram abordados por empresas de listas telefônicas que tentaram enganá-los, a TeleListas identificou pelo menos 30 empresas com práticas suspeitas no país. Algumas das fraudadoras possuem o mesmo CNPJ da TeleListas, mas se apresentam com nomes e endereços diferentes. A maioria delas é de Campinas, em São Paulo, segundo a assessoria de imprensa da TeleListas.

O maior número de casos do golpe, segundo ranking de reclamações do Ministério da Justiça, concentra-se nas regiões Sudeste e Norte do país. A TeleListas recebe, em média, 20 notificações mensais de fraudes aplicados com o nome da empresa.

A delegada Catarina Decena, da delegacia que investiga fraudes e estelionatos do Departamento de Investigações contra o Crime Organizado (Deic), de São Paulo, diz que “as pessoas devem checar a procedência do serviço solicitado antes de assinar qualquer contrato”. "Os anunciantes sempre devem verificar se a empresa existe mesmo, entrar em contato novamente, confirmar os dados e os valores e a veracidade das informações”, diz.

“Empresas idôneas oferecem serviços se identificando, e não pedem dados bancários dos clientes. Também é possível procurar o Procon e a polícia para saber se não existem reclamações anteriores”, afirma a delegada.

Outras empresas citadas

A Brasillistas informou que seu contrato estabelece de maneira clara que seriam cobrados valores mensais em contraprestação ao serviço de publicidade e que cancelou o contrato da cliente assim que solicitado. A empresa diz que tem tido o seu nome usado inadequadamente por golpistas.

Procurada pela reportagem do G1 no Paraná, a Editora Veneza, que publica a NetLista, informou que oferece seus serviços a possíveis anunciantes e que, através de contrato formal, repassa os valores a serem pagos. A advogada da empresa, Erica de Souza Moraes, disse que a NetLista já foi vítima do "golpe do cartório", em que clientes foram procurados por falsistas que se passavam por agentes que reclamavam o pagamento de débitos e que a polícia foi avisada.

Já a Ativa Publicações Virtuais diz não ter conhecimento de eventuais reclamações. Seus contratos são feitos, diz, após contato telefônicos com os interessados.

A Associação Brasileira de Listas Telefôncias recomenda que anuciantes não confirmem dados por telefone ou paguem pelo que não foi contratado.


Data de publicação: 15/08/2017

Fonte: G1

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